quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O assassinato de Eluana

A Igreja sempre se pautou por uma postura primitiva e mártire perante a realidade do mundo: considerando-o, em determinada extensão, como Purgatório, ou até Inferno, antes da redenção providenciada pelo termino de uma vida condigna, dentro dos seus dogmas.


Perante novos meios para aplacar a dor, ou contornar determinações naturais, condenaram e vilipendiaram esses esforços para tornar a vida mais fácil.

Censuraram o aborto, criticaram a eutanásia, segregaram o preservativo. Forçaram e continuam a pressionar países e comunidades para se reduzirem à sua visão egoísta do mundo.

Desrespeitam os seus fieis e até os seus próprios clérigos, condenando-os pelas suas opções individuais.

Os seus membros vivem no fausto da sua própria cidade-estado ou espalhados pelas suas numerosos palácios, "todos" restringidos pela norma do celibato. 

Se se retiram da vida, o que dela saberão?

O suficiente para atirar a primeira pedra a algum pecador? Para se imiscuir nos dramas da humanidade?

Se dela sabem tão pouco...

Alguns gritarão heresia ao ler isto... Certamente teria morrido na fogueira noutra altura por estas palavras, sem jocosidade, mas sinceras.

E porque as escrevi aqui? Não tem termo de comparação com os textos anteriores... ou terá?

Uma família, como tantas que haverão, ganhou o direito ao recurso à eutanásia no caso de uma mulher, de uma filha - Eluana - à dezassete anos em coma.

Contras tempestades religiosas e falsos pudores, conseguiram ver a sua aprovação pelos tribunais italianos.

Contra reacções como: 

"A eutanásia é uma falsa solução para o drama do sofrimento, uma solução indigna do Homem", proferida pelo próprio Papa;

" A verdadeira resposta não pode ser proporcionar a morte, por muito suave que ela seja, mas sim testemunhar o amor para ajudar a enfrentar a dor e agonia",  outras tantas palavras proferidas pelo sumo-pontifíce;

"parar alimentação e a hidratação de uma pessoa, que além disso está doente, significa conduzi-la a uma eutanásia inaceitável", declaração do chefe da Igreja Italiana, Angelo Bagnasco;

"Parem este assassínio" porque "a Igreja não parará de reclamar em voz alta", afirmação do ministro da Saúde do Vaticano, o cardeal Javier Lozano Barragan.

Laivos de outros tempos, da Idade Média talvez... A Igreja tenta prender todos os cidadãos, crentes ou não, aos seus próprios designios.

Divinos? Não certamente, porque é feita por homens e para os homens.

Que arrogância a de ditar dramas e vidas, os quais ignora.
 
Uma igreja marejada em pecados a salvar seres humanos dos seus vícios.

Que ironia.


[cruz]